terça-feira, 14 de dezembro de 2010

TRADIÇÕES E CAMINHOS

Outro dia uma amiga me comentou que lhe disseram que era hora dela iniciar sua própria Tradição para transmitir as experiências e as práticas que ela havia vivenciado.
Fiquei curioso com o termo “Tradição”, uma vez que “tradicional” é algo que se mantém ao longo do tempo, e descobri que a palavra “Tradição” significa “conjunto de práticas transmitidas, em geral, oralmente à geração seguinte”. Entretanto, parece que entre os pagãos, “Tradição” é uma das divisões do Paganismo. Assim, Bruxaria, Wicca, Xamanismo, Druidismo, entre outras, seriam Tradições do Paganismo. Até aí, tudo bem.
Creio que cada tradição se iniciou com uma pessoa que teve vivência profunda em uma ou várias tradições e, estudando-as, vislumbrou outras possibilidades com a variação de um ou mais paradigmas da tradição vigente e se empenhou em desenvolver essas possibilidades, sistematizou todo o seu aprendizado e depois repassou a um grupo, que refinou todo esse material e criou uma estrutura em cima disso tudo.
Também existe o caso da imanência. Uma pessoa tem um insight e desenvolve idéias e vivências em função dessa(s) percepção(ões) recebida(s). Em seguida, sistematiza e estrutura esse material.
Em qualquer caso, quando essa estrutura se mantiver ao longo das gerações, passa a ser uma tradição.
Mas, se uma Tradição só passa a existir quando se mantém por, pelo menos, uma geração, como chamar uma “Tradição” em seu início?
Como a vivência de uma pessoa é descrita popularmente como a trajetória dessa pessoa, creio que o conjunto de paradigmas e práticas que uma pessoa desenvolve deva ser chamado de Caminho (pessoal). A sistematização do Caminho pode ser considerada como a confecção de um mapa, uma série de indicações e diretrizes para que outro indivíduo chegue a um destino.
(Uma observação pessoal: creio que o único destino válido em uma prática religiosa seja a conscientização da ligação indivíduo-divindade já existente, que, espera-se, seja o resultado de uma jornada em direção a si mesmo).
O compartilhamento do Caminho sistematizado com um grupo ou a busca grupal pela sistematização da combinação de Caminhos individuais pode ser definido como um Círculo de estudos, ou simplesmente Círculo.
Finalmente, se a idéia sistematizada do Caminho e a estrutura do Círculo se mantiverem por duas gerações, se tornam uma Tradição.
Dessa forma, é correto afirmar que o indivíduo cria o Caminho (ou talvez o Caminho se manifeste através do indivíduo), mas é o tempo que forja a Tradição.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

INICIAÇÕES

Existem dois tipos de iniciação, no sentido místico.
A iniciação ritual, que existe em praticamente todas as formas de culto e crença, através da qual o individuo é formalmente aceito na comunidade da filosofia na qual foi iniciado. É um rito de passagem e, como tal, tem a função de marcar o momento em que esse indivíduo sofre uma “transformação”, assumindo oficial e/ou publicamente novos conceitos, crenças e compromissos com a(s) divindade(s) correspondente(s).
Segundo Dolores Ashcroft-Nowick, em seu Manual Prático de Magia Ritual, o ritual “é um meio pelo qual o homem pode contatar energias e forças que estariam fora de sua compreensão”. Porém, os rituais também são uma sequência de ações cujo significado é tornar público um compromisso interno. É uma forma de “tornar visível” um acontecimento interior e, portanto, invisível.
Essa forma de iniciação ritual, que é uma consequência de trabalho e estudo (ou pelo menos deveria ser) e que representa o compromisso formal do individuo com as divindades, é, entre os ocultistas, chamada de iniciação menor.
O outro tipo de iniciação não é ritual e não pode ser confirmada ou refutada por ninguém, uma vez que é totalmente subjetiva. É a experiência espiritual, através da qual o individuo (ou sua essência) estabelece contato com a essência do Universo, ou seja, a Divindade, tornando-se consciente da ligação existente entre ambos. Essa consciência vai além do conceito intelectual, preenchendo todo o seu ser, em todas as suas nuances. É o conceito da imanência. É a chamada iniciação maior.
Nem sempre as duas iniciações ocorrem em um indivíduo e, quando isso acontece, quase nunca as duas acontecem simultaneamente. Às vezes, ocorre o ritual primeiro e depois a imanência; às vezes, o contrário. Pode um indivíduo ser iniciado ritualisticamente em várias tradições e não passar pela imanência, ou passar pela imanência e nunca ser iniciado em nenhuma tradição.
Particularmente, concordo que a imanência predomine sobre o ritual. Na minha opinião, somente quando ocorre a imanência é que a iniciação realmente ocorreu. Não que a iniciação ritual seja falsa, mas ela é a afirmação de uma intenção de transformação. Após a imanência, a transformação é inevitável.
Ao atingir a imanência, o indivíduo reconhece a unidade por trás da multiplicidade das tradições, religiões e credos. Conscientiza-se do Uni que existe no Verso.(Uni - um; verso - oposto). Consegue reconhecer a ligação e o valor dos rituais, seja um Sabath, um culto protestante, uma missa católica ou uma gira de candomblé. Reconhecendo as diversas manifestações da Divindade, passa a respeitar a todas essas manifestações.
Essa iniciação interior é o objetivo que deve ser buscado, sendo as iniciações rituais mecanismos para essa busca, ou um reconhecimento de sua ocorrência