quarta-feira, 21 de março de 2012

Realidade I

Quem assistiu ao filme “Matrix” deve se lembrar da cena onde Morpheus pergunta ao Neo “o que é real”.
Se ainda não viram, recomendo que vejam, pelo menos essa cena e as subsequeintes, onde Morpheus discorre sobre a Realidade e, por fim, mostra a Neo que os seres humanos estão presos e são bombardeados por impulsos de modo a vivenciarem uma “realidade” apenas em sua mente.
Claro que é ficção, afinal (aparentemente) todos sabem onde estão, ou o que é real o que não é.
Fácil assim? Felizmente não!
Consideramos como real é tudo que pode ser percebido pelos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Esticando um pouco o conceito, podemos incluir os sentimentos entre as coisas “reais”, uma vez que todos os experimentam.
Uma análise básica no mecanismo de percepção humana faz com que percebamos o quão ineficiente ele é.
Quando as células da retina são sensibilizadas por uma onda eletromagnética cuja freqüência é de 550 000 000 000 000 Hz, elas produzem um impulso elétrico que causará no cérebro uma sensação que interpretamos como a cor verde. Mas as retinas só são capazes de serem sensibilizadas por onda eletromagnética cuja freqüência variem de 400 000 000 000 000 a 750 000 000 000 000 Hz. Mas, no conjunto total de ondas eletromagnéticas a freqüência varia da ordem de 100 Hz a 10 000 000 000 000 000 000 000 Hz. Ou seja, “enxergamos” uma fração muito, muito pequena do total de ondas eletromagnéticas.
Quando os tímpanos são sensibilizados por uma onda mecânica de 392 Hz, eles produzem um impulso elétrico que causará no cérebro uma sensação que interpretamos como a nota sol. Entretanto, os tímpanos são sensibilizados por ondas mecânicas cuja freqüência variem entre 20 a 20 000 Hz. Abaixo de 20 Hz, temos o infrasom e, acoima de 20 000 Hz, o ultrasom. São freqüências de ondas mecânicas que existem, mas não nos causam reação auditiva.
Quando as moléculas de Nonilato de etila que se desprenderam na forma gasosa entram pelas fossas nasais, interagem com as substâncias quimiorreceptoras olfativas presentes nas células neuroepiteliais distribuídas pela mucosa pituitária no nariz, estimulando-as. Aí ocorre a geração dos impulsos elétricos que são enviados ao cérebro, que interpretam como o odor de uma rosa.
De modo semelhante, o paladar funciona baseado na ativação de quimiorreceptores localizados nas papilas gustativas ou linguais. Com o estímulo de uma determianda substância, ocorre a geração dos impulsos elétricos que são enviados ao cérebro, que interpretam como um sabor.
A pele recebe estímulo de pressão e calor, e os transformam em impulsos elétricos que produzem a sensação de calor, frio, áspero, macio, etc., tudo no cérebro.
Então, tudo que vemos, ouvimos, cheiramos, degustamos e tocamos se transforma em impulsos elétricos específicos que são codificados no cérebro de modo a formar uma série de sensações que formam um “quadro” que chamamos de realidade. Na verdade,
Entretanto se os sentidos fossem mais (ou menos) aguçados, perceberíamos uma fração diferente da realidade. Um bom exemplo são os daltônicos que, literalmente, percebem a realidade de forma diferente. Outro são os cães, capazes que captar freqüências maiores das ondas mecânicas que os seres humanos, logo “ouvem sons” que para nós “não existem”.
Por outro lado, mesmo com todos os sentidos perfeitos, uma alteração na “decodificação” dos impulsos elétricos faz com que a percepção da realidade seja alterada. E isso pode ser feito através a alteração do estado de consciência do individuo. Uma pessoa pode segurar uma cebola e todos os sentidos captarem os estímulos mandarem os impulsos elétricos corretos ao cérebro para que este identifique a cebola. Mas, se for feita uma sugestão através da hipnose (que é uma técnica de alteração do estado de consciência), de que ela está segurando uma maçã, embora todos os impulsos elétricos que chegarem ao cérebro sejam de “cebola”, devido a sugestão, a interpretação será de “maçã”. Formato, cor, aroma, sabor, textura, temperatura... todas as características.
Tendo feito curso e treinamento com hipnose, e trabalhado nisso com um grupo próprio com pessoas que eu já convivia, posso assegurar que isso ocorre.
Então, se percebemos apenas uma fração dos estímulos a nossa volta, o que percebemos é apenas uma fração da realidade.
Isso, considerando apenas os cinco sentidos humanos.
Lembro de uma história hindu, se não me falha a memória, que ilustra a situação em que vivemos.
Cinco cegos estavam a caminho e encontraram um elefante.
O primeiro apalpou a pata e afirmou: “É uma palmeira!”.
O segundo apalpou o corpo e disse: “É como uma grande pedra!”.
O terceiro pegou a tromba e sentenciou: “É como uma cobra, porém sem os dentes”.
O quarto, mais alto, pegou na orelha e definiu: “É como uma grande folha rugosa e cheia de pelos”.
E o quinto, agarrado ao rabo, foi enfático: “Ora é como uma corda com um pequeno espanador na ponta”.
A história continua, mas o ponto é que, se estamos percebendo apenas fragmentos da realidade, como ela realmente é?