quinta-feira, 24 de maio de 2012

INTERMEDIÁRIOS E FALANGES

Assim como um computador, por exemplo, literalmente queimaria se ligado diretamente a um fio da rede elétrica do poste (uma vez que nesse a energia é da ordem de milhares de volts), a mente de um ser que habite o plano material não suportaria uma ligação direta com a energia, a consciência ou mesmo com os conhecimentos de uma deidade. De fato, a forma que uma deidade utiliza para se comunicar é incompreensível para um mortal, pois ocorre em níveis aos quais a mente do que estão habitando no plano mortal está bloqueada a perceber. Esse fato faz com que alguns seres desencarnados no plano material, mas ainda com ligações a ele, em determinada da sua evolução possam continuar essa evolução sem necessariamente reencarnar. Esses seres passam a agir como intermediários ou representante das deidades, recebendo energias e conhecimentos de planos superiores e tornando-os adequados para que produzam efeito, ou seja, compreensíveis no plano material. De forma análoga aos transformadores de voltagem dos postes, que permitem que a energia dos mesmos seja utilizada nas casas. Normalmente, o ser que irá agir como intermediário dos outros planos o faz sob a proteção de uma égide ou de uma deidade específica, assumindo alguns padrões de comportamento e recebendo determinados atributos e características, tudo é claro de acordo com a deidade ou poder a ser representado. Por exemplo, o anjo da guarda (que na versão católica é um ser com natureza distinta da dos humanos, nunca tendo encarnado), segundo a visão kardecista é um ser que já viveu várias encarnações, mas atingiu tal estágio de evolução que lhe permite assumir essa função. Algumas tradições pregam o mesmo inclusive para figuras “mitológicas”. Essas seriam funções e não seres. No romance “As Brumas de Avalon”, a autora usa essa idéia ao colocar Merlin não como uma pessoa específica, mas como um título dado a um druida. Algumas tradições do cristianismo primitivo pregavam que Jesus de Nazareth só em determinada idade se tornou o Cristo, ou seja, se tornou o representante de Yahweh (Javé) no plano material. Aliás, o próprio conceito de avatar tem parentesco com esse processo. Seja como for, várias tradições apóiam essa idéia, em diversos graus. Um ser se torna um intermediário pelos seguintes motivos: afinidade e/ou necessidade. O ser pode já ter uma consciência clara do processo de evolução, de modo que saiba que a realidade material não é a única forma de evoluir, mas ainda esteja ligado a esse plano, de modo que não possa ou não queira se desvincular totalmente dele. Por outro lado, pode ter uma afinidade com uma ou mais características de uma deidade, ou até com a própria deidade, de modo que, ao desencarnar, pode ocorrer de conseguir se “colocar a serviço” dessa deidade, tornando-se um intermediário através do qual a deidade agirá no plano material. Em contra partida a ação da deidade no plano material, sua existência como uma manifestação específica é alimentada. (Ver Como os Deuses...) Esse “se colocar a serviço” pode ocorrer por iniciativa do ser ou por convocação da deidade, comumente através de outro intermediário. Por outro lado, o ser pode não ter consciência do processo de evolução, mas estar envolvido a aspectos primais de sua psique – como ódio, instinto sexual, etc. – de modo intenso e desarmônico, de modo que é atraído a se tornar intermediário de deidades que personificam ou têm esses aspectos como dominantes em suas ações. Normalmente, nesses casos, os seres primeiro se tornam “prisioneiros” de suas obsessões, depois das deidades ligadas ao foco das obsessões e depois intermediários dessas deidades. Eventualmente, o serviço a essas deidades pode provocar uma tomada de consciência por parte do ser, de modo que ele utilize esse serviço para contribuir com sua evolução. Na tradição da umbanda, existe o conceito de “falange”, que é um bom exemplo do que foi exposto acima. Uma festa de Shangô, por exemplo, na qual ocorre a incorporação do orisha, não pode esperar que seja REALMENTE a essência primal do Trovão e da Justiça que esteja se manifestando. Como já foi dito, seriam energias por demais intensas, não só para a mente e a alma, mas também para o corpo do ser que o está incorporando. É mais provável que seja um dos intermediários – ainda que de planos nos limites da interação direta com o plano material – que incorpore, irradiando nesse plano uma energia cuja vibração seja mais próxima da deidade (no caso, o orisha), e absorvendo as emoções de devoção que reforçarão a forma-pensamento que mantém a individualidade da deidade. Dessa forma, os seres que – por quaisquer motivos que sejam – estão “a serviço” de um orisha passam a fazer parte de sua Falange, seja em que nível for. Parece lógico que os seres que ainda tenham uma afinidade grande com o plano material assumam uma de suas encarnações para se manifestar: preto-velho, caboclo, erê. Estas seriam as falanges mais próximas ao plano material. Depois seria a falange dos eshus (e pombogiras, claro), já um pouco mais afastado das encarnações. Fazer parte da falange dos orishas, propriamente ditos, implicaria que o ser já se desvinculou bastante – mas não totalmente – do plano material.

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